sexta-feira, 7 de abril de 2017

Projeto do aeromóvel para a Região Metropolitana tem investimento estimado de R$ 10 bilhões

11/03/2017 - Zero Hora

Um projeto de implantar linhas de aeromóvel entre municípios da Região Metropolitana ganha força no governo federal como alternativa ao metrô subterrâneo ao prever investimentos estimados em cerca de R$ 10 bilhões. 

O recurso para implantar oito linhas de aeromóvel para transporte de massa seria desembolsado pela iniciativa privada em troca da concessão da Trensurb por 30 anos — e um provável aumento na tarifa. Gigante chinesa da construção, a companhia China Railway First Group (CRFG) tem interesse no negócio e deverá apresentar ao Planalto um estudo mais detalhado, elaborado em parceria com a empresa gaúcha Aeromóvel do Brasil, no dia 21 de março. 

A ideia de criar uma rede de transporte com quase cem quilômetros de vias elevadas para aeromóvel conectadas a estações do trensurb avança em Brasília. Na semana passada, representantes da CRFG e da Aeromóvel apresentaram um esboço do projeto aos ministros da Casa Civil, Eliseu Padilha, e das Cidades, Bruno Araújo — responsável pela pasta à qual a Trensurb está vinculada. Padilha e Araújo deram sinal verde para as empresas detalharem um plano com análise de viabilidade mais precisa e um esboço do possível modelo de concessão da Trensurb. Técnicos da Secretaria Nacional de Mobilidade Urbana, subordinada ao Ministério das Cidades, também deverão apresentar um relatório sobre o sistema metropolitano. 

Os chineses avaliam que a integração viária abrangendo 11 municípios seria capaz de movimentar 1,4 milhão de passageiros por dia e criar um negócio autossustentável. Hoje, o fluxo diário de passageiros apenas no trensurb gira ao redor de 200 mil, e a passagem de R$ 1,70 é subsidiada pela União. Como a operação do trem é deficitária, o governo federal é simpático à ideia de a iniciativa privada assumir a gestão do sistema, que contaria com uma nova tarifa ainda não definida. 

O aeromóvel também ganha terreno em razão do menor custo e maior facilidade de implantação. Em Canoas, onde o município decidiu buscar financiamento de R$ 272 milhões para instalar por conta própria um primeiro trecho de 4,6 quilômetros, o custo ficou em cerca de R$ 60 milhões por quilômetro. O preço estimado para o metrô subterrâneo na Capital, agora descartado, chegava a ser quase 10 vezes maior. A via elevada também não exige desapropriações. 

Estimativas preliminares indicam que a implantação da rede de aeromóveis custaria entre R$ 8 bilhões e R$ 10 bilhões, mas, conforme a CRFG, ainda não foi calculado o valor da modernização das estações e da frota da Trensurb — o que também faria parte do negócio. Mas o projeto deve enfrentar críticas e desconfianças antes de sair do papel. O aeromóvel, que hoje funciona em uma linha com menos de mil metros no aeroporto, ainda não foi implementado como meio de transporte de massa. O Sindicato dos Metroviários condena a proposta. 

— O aeromóvel serve para trechos curtos, não para transportar milhares de pessoas. Além disso, o subsídio na passagem é um dos poucos retornos que o cidadão tem dos seus impostos — avalia o presidente do Sindimetrô, Luis Henrique Chagas. 

O diretor da Aeromóvel do Brasil, Marcus Coester, garante que os veículos conseguem levar até 40 mil passageiros por hora em uma direção, cerca do dobro do necessário para atender a um corredor como o da Assis Brasil, em Porto Alegre. 

Especialista em transporte e diretor de Cidades Sustentáveis do WRI Brasil, entidade que reúne ONGs em vários países, Luis Antonio Lindau sustenta que o aeromóvel é um tipo de sistema de média capacidade adequado para a criação de redes integradas de transporte. 

— O importante é ter acessibilidade, ou seja, muitas estações por quilômetro quadrado. Nesse sentido, vale mais uma rede com muitas estações do que uma linha isolada de metrô — analisa Lindau. 

Plano de expansão do aeromóvel é apoiado por gigante da construção 

Por trás da ideia de interligar a Região Metropolitana com linhas de aeromóvel se encontra uma das maiores companhias de construção no mundo. 

A empresa China Railway First Group (CRFG), que venceu a licitação para a obra civil do aeromóvel em Canoas e pretende ampliar o sistema para cidades próximas, é uma das subsidiárias da gigantesca China Railway Group — a qual conta com quase 300 mil funcionários divididos em 43 empresas afiliadas. Na lista das 500 maiores companhias do mundo elaborada pela revista Fortune, no ano passado a China Railway Group aparecia na posição 57. 

Acostumada a assumir obras ambiciosas ao redor do planeta, a CRFG, que sozinha conta com cerca de 30 mil empregados, escolheu Canoas como ponto de partida para planos mais ousados. Isso inclui assumir a concessão da Trensurb por 30 anos, transformando a linha metropolitana em um eixo ao qual se ligariam oito novos percursos de aeromóvel. 

— A gente conseguiu cumprir todas as exigências do governo brasileiro quando ganhou a licitação de Canoas. Isso vai facilitar muito (para participar de outras licitações), porque já estamos abrindo uma subsidiária em Canoas — explica o diretor comercial da CRFG no Brasil, Chhai Kwo Chheng. 

O objetivo de criar essa rede interligada é elevar o número médio de usuários do trem urbano, que hoje fica ao redor de 200 mil, para mais de um milhão em todo o novo sistema e criar um negócio sustentável de grande porte. O projeto alinhavado pela CRFG, em parceria com a empresa gaúcha Aeromóvel do Brasil, faz parte de uma política de expansão internacional da empreiteira chinesa colocada em prática ao longo dos últimos anos. A intenção dos chineses, agora, é implantar essa estratégia em solo gaúcho.