domingo, 10 de abril de 2011

Inventor do aeromóvel revela detalhes de sua mais famosa criação

20/02/2011 - Diario de Canoas, Gabriel Guedes

É neste semestre ainda que deve começar a implantação do sistema de transporte em Porto Alegre.

Novo Hamburgo - Ex-funcionário da Varig, Oskar Coester, 72 anos, é um dos técnicos que colocou pela primeira vez um avião a jato no ar no Brasil, em 1959. O chefe Rubem Berta, presidente da companhia na época, impressionado com a aeronave – um Boeing 707, que percorria mil quilômetros em menos tempo do que a distância entre o Galeão e o Leme, no Rio de Janeiro –, alertava que o problema era como o passageiro poderia chegar ao aeroporto com maior facilidade.

A constatação instigou o técnico especialista em aeronáutica, que dedicou sua vida a resolver este problema. Depois de anos de pesquisa e desenvolvimento, Coester finalmente está próximo de tirar do papel sua criação: o aeromóvel, uma ideia já conhecida por muitos gaúchos há algumas décadas, mas que em breve deverá se concretizar. É neste semestre ainda que deve começar a implantação do sistema de transporte entre a Estação Aeroporto do trensurb e o Aeroporto Salgado Filho, em PortoAlegre. A criação de Coester interligará os pontos, separados por quase um quilômetro, em uma silenciosa viagem de 90 segundos.

Para chegar ao conceito do aeromóvel, o hoje empresário precisou detectar o que era mais eficaz. Os estudos começaram no bairro Serraria, em Porto Alegre, onde
sua empresa funcionava nas origens. "O melhor caminho foi saber que precisávamos de uma via expressa sem obstáculos", conta.

No entanto, a solução não era tão simples. Coester estudou a capacidade de carga útil de vários veículos e modais de transporte e a eficiência energética. O resultado apontou para um transporte em via elevada, ocupando o mínimo de espaço, trafegando sobre trilhos.

Mas não se tratava de metrô. Precisava também ser extremamente leve. "Pensei no princípio do barco a vela. Mas neste caso, precisaria ser uma viga oca e com algo que tocasse o vento para empurrar o carro que estivesse fixado a uma aleta (placa que funciona como uma espécie de vela de embarcação)", explica.

Convicção

Em 1979, Coester fez o primeiro teste do aeromóvel em trajetos acima de 650 metros, com curvas e aclives. Três anos mais tarde, o Ministério dos Transportes assinou contrato para construção de linha piloto na capital gaúcha. "Foi um pesadelo", confessa. Durante a obra, por ordens político administrativas, o projeto foi abandonado. "O Ministério não quis saber de
mais nada. Paguei 80% do teste, concluindo a linha, só por causa da minha convicção", salienta.

Tamanho otimismo também recebeu apoios. Em 1986, um grupo indonésio resolveu levar para Jacarta a tecnologia desenvolvida no Rio Grande do Sul. No Brasil, Coester teve como defensores os arquitetos Oscar Niemeyer e Jaime Lerner. Mas o criador está ciente de que sua criação ainda terá o que evoluir, por isso críticas do passado e atuais sempre serão bem vindas. "Antes ser salvo pela crítica do que ser arruinado pelo elogio."

Trajetória de Oskar atesta valor do técnico

Oskar Coester é filho de imigrantes alemães, que chegaram ao Rio Grande do Sul em 1935. Enquanto seu pai tentava cultivar aspargos, em Pelotas, cidade onde nasceu em 1938, o criador do aeromóvel aproveitava para saciar a curiosidade sobre o funcionamento de alguns objetos.

Jovem, gostava de frequentar o curso de Torneiro Mecânico da Escola Técnica de Pelotas. "Era um paraíso. Passava o dia todo lá", recorda ele, que chegava permanecer até 12 horas estudando. Aos 17 anos já estava habilitado pelo curso em Construção de Máquinas e Motores. Aos 18, prestando serviço militar, soube de um curso de especialização em Aeronáutica, fornecido pela Varig. Era a mudança para Porto Alegre e também a guinada na vida que lhe proporcionou colocar o primeiro avião a jato do Brasil no ar e criar o próprio aeromóvel.

Comandando um time de cem colaboradores na sua empresa de automação industrial, com planta em São Leopoldo, ele acredita que o Brasil, em especial o Vale do Sinos, possui muito futuro no que depender de seus técnicos. "Temos muitos talentos por aqui e em todo País", salienta. Aliás, é na cidade do Vale que já estão sendo produzidos os protótipos de veículos que serão utilizados na linha que será implantada na Capital.

Isso mostra como Coester, que sempre priorizou a administração da empresa, criada em 1963, nunca abriu mão do projeto do aeromóvel. Inspirado pela sua criação sempre manteve no empreendimento um setor de pesquisa e desenvolvimento, o que lhe rende bons resultados. "Trabalhamos com automação para a Petrobras desde 1975. Hoje temos centenas de atuadores (dispositivosque produzem movimento atendendo a comandos) instalados nos equipamentos da empresa", revela.

Obra deverá começar até final do semestre

A obra de implantação do aeromóvel entre a Estação Aeroportoe o terminal 1 do Aeroporto Salgado Filho, deveria ter começado em janeiro, mas não tem previsão certa de início. Licitado em três partes, ainda há uma concorrência para ser lançada, enquanto o contrato para construção da via elevada aguarda a confirmação dos recursos para ser firmado. O que deve acontecer até final de março.

O cronograma inicial previa término da obra em outubro, o que agora deverá se estender até o começo de 2012. Segundo o presidente da Trensurb, Marco Arildo Prates da Cunha, o lançamento da licitação para contratação da empresa que construirá os terminais de embarque e desembarque do aeromóvel deve ocorrer até março.

A Trensurb anunciou em janeiro a empresa vencedora da licitação para fabricação dos veículos para oAeromóvel. A empresa T’Trans Sistema de Transporte venceu concorrência apresentando proposta de R$ 2.819.234,19. Antes, em dezembro foi divulgado o resultado da licitação para execução das obras da via elevada.

A construtora Premold, de Sapucaia do Sul, com a proposta no valor de R$ 7.2229.768,19 saiu vencedora da licitação da obra e será a responsável pelos trabalhos. Conforme Cunha, este contrato não foi ainda assinado porque aguarda a liberação dos recursos, o que deve acontecer até final de abril.

Orçado em R$ 29,8 milhões, o projeto usa tecnologia brasileira, totalmente desenvolvida aqui no Estado. Uma espécie de joint venture entre a própria Trensurb, a Aeromóvel Brasil – empresa de Oskar Coester –, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia, foi encarregada de maturar o invento, que tem o mesmo princípio do barco a vela, segundo Coester.

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